21 de outubro de 2005

Sim ounão?


Sim ou não?

Martha Medeiros
ZERO HORA - 19/10/2005
Até o ano passado, eu era uma fervorosa defensora do desarmamento. Não mudei de opinião, continuo achando uma estupidez alguém possuir uma arma. Não temos condições psicológicas para usá-la: quem de nós - pessoas de bem - atiraria em outro ser humano com frieza, sem com isso também matar-se um pouco? E, quanto às alegações de que um revólver dentro de casa pode causar tragédias pessoais, bastando para isso alguém com a cabeça quente, concordo 100%. Por tudo isso, passei minha vida inteira a favor da proibição de venda de armas.
Porém, 2005 inaugurou-se com a violência cada vez mais desmedida e com o governo atolado em denúncias de corrupção, não deixando a menor dúvida de que o dinheiro dos nossos impostos, que deveria ser usado para educação e segurança - duas coisas que desarmam espontaneamente qualquer nação -, está sendo usado para encher o bolso de poucos, como sempre aconteceu neste país revoltante. Tememos estacionar o carro numa rua calma, tememos quando nossos filhos voltam a pé do colégio, tememos ter nosso apartamento invadido a qualquer momento, tememos ir a um caixa eletrônico tirar dinheiro, e viver com medo é uma indignidade. Então, por que o governo gasta centenas de milhões neste referendo em vez de investir no que realmente traz resultados, ainda que a longo prazo? Quem sou eu para decidir como um cidadão que mora em local isolado deve proteger-se? Passar essa batata quente para nossas mãos é uma tremenda cara-de-pau do governo. Por tudo isso, até semana passada, eu votava NÃO.
Hoje, depois de muito pensar, mudei meu voto de novo. Não vou votar SIM porque não acredito que a paz virá como um passe de mágica em resposta a nossa boa índole. Se o governo não agir firmemente para desmantelar quadrilhas, combater o tráfico de drogas e transformar policiais corruptos em policiais treinados e bem pagos, nada vai mudar. Tampouco vou votar NÃO, porque isso fere minhas convicções pacifistas e porque, vá saber, posso mesmo estar contribuindo para armar o bandido. Descobri que sou contra mesmo é este referendo que nos foi imposto como uma inocente e valorosa consulta democrática, mas que trata de uma questão muito complexa e que traz armadilhas verbais e intenções escusas. Pela primeira vez na vida, e com tristeza, anularei meu voto, e seguirei defendendo a tese de que para desarmar a população não é preciso referendo algum, basta moralizar este país.

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