2 de maio de 2008

Dia do trabalhador

Mas, acho que as coincidências param por aí. Aquele primeiro de maio era um domingo, um dos melhores da minha vida; um dos piores da humanidade.


Bem, como eu trabalho em regime de escala de revezamento, feriado e fim-de-semana são coisas que não me pertencem mais. Mesmo assim, o 1º de maio é um dia do qual sempre me lembro.

Inclusive, lembro-me muito bem do que eu estava fazendo há 14 anos atrás. Era um dia frio como o de ontem. Carrancudo. Cinzento. Choviscava como ontem. Mas, acho que as coincidências param por aí. Aquele primeiro de maio era um domingo, um dos melhores da minha vida; um dos piores da humanidade.


Eu tinha pouco mais de 18 anos, mas hoje vejo que minha mente e coração nunca tiveram idades cronológicas iguais. Enquanto naquela idade a maioria da gurizada já namorava, noivava, casava e alguns dos meus amigos já tinham filhos (adulterinos até), eu era um jovem recatado que sonhava em ser juiz, que respeitava as donzelas e despresava as putas. Não que hoje o meu coração não seja mais ou menos parecido, mas com certeza, naquela época a minha mente era de um cara de mais 30 anos. Mas o coração não. Eu ainda engatinhava por dentro.

Naquele domingo eu não estava trabalhando desde às 6 horas como ontem. Eu estava desempregado. Meses mais tarde o Exército me chamou, e foi nos tempos de caserna que eu carreguei aquele dia na mente como um dos mais marcantes da minha existência.


1994. 1º de maio. Eu saí de casa por volta das nove horas. Encontro marcado com uma menina que eu era apaixonado naquela época. Saímos para caminhar à beira-mar. Foi um dos últimos encontros românticos que eu tive com ela... e depois de alguns dias nunca mais a vi por uns bons anos. Eu não esqueceria aquela manhã jamais. Foi maravilhosa dentro do meu mundo egoísta. Foi maravilhosa só para mim. O que eu não sabia era que em um lugar chamado Ímola, na Itália, Ayrton Senna e tal Curva Tamburello entrariam definitivamente para história.

À noitinha eu ainda sentia o perfume daquela manhã, enquanto o Roberto Cabrini contava pela TV: "Morre Ayrton Senna, uma notícia que ninguém gostaria de dar".

Pois é. Todos os anos eu lembro disso. Sempre tem festa. Sempre lembram do Senna. E eu sempre lembro de Capão e daquele passeio inocente. Lembrei-me disso ontem de novo (tanto tempo depois!). Vejo que agora os brasileiros comemoram o Dia do Trabalho sem tanto remorso quanto nos anos que se seguiram à morte de Senna. Ontem, um churrasco na nossa associação de funcionários regado à cerveja e muita música gauchesca colocaram outra pá de cal sobre a minha culpa de ter lembranças doces de um dia fatídico como aquele. Ano após ano a minha consciência perde essa briga para a memória, pois a vida dos brasileiros já voltou ao normal.

Para mim, a culpa daquele dia romântico já não existe mais. Aquela paixão acabou e a cosciência deu lugar à memória...

Mas ainda lembro bem, e minha memória (essa sim, o meu algoz), na estréia de cada mês de maio, faz-me lembrar daquele domingo como sendo um dos melhores da minha vida e um dos piores da humanidade.

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