3 de setembro de 2008

Patriotismo ou lavagem cerebral?

As Olimpíadas são como o Natal: não há como evitar. Nos primeiros Jogos Olímpicos da era digital, foi impossível para qualquer brasileiro passar ileso.
 
Durante três semanas, fomos obrigados a ouvir a narração irritantemente afônica de Galvão Bueno e a acompanhar as reportagens criadas para tentar surpreender o telespectador que, coitado, deve agora estar se recuperando das madrugadas em que assistiu ao Brasil perder.
 
Foram 19 dias de jogos, 277 atletas e apenas três medalhas de ouro, totalizando um investimento de aproximadamente R$ 1,2 bilhão para mandar a delegação brasileira ao outro lado do mundo. A cada quatro anos, o mesmo blablablá se repete. Horas e horas de histórias sobre superação de limites numa seqüência de frases clichês. Horas e horas de dramas esportivos regados pelo suor dos esportistas que dão duro para conquistar o tão sonhado espaço olímpico. Horas e horas da saga dos atletas desconhecidos que fizeram valer todo o capital investido pelos anunciantes da TV Globo. Horas e horas de torcida que, como em um passe de mágica, vê todos os problemas desaparecerem ao ser tocada pela glória do esporte. Horas e Horas de imagens repetidas à exaustão. Horas e horas de lavagem cerebral.

Sempre se cria uma enorme expectativa nos cidadãos na tentativa de gerar orgulho pelo país. É o menino pobre que lutou para chegar a Pequim e, mesmo perdendo, é considerado um vencedor. É a humanidade que coloca de lado suas diferenças em um evento esportivo mundial a fim de testar os limites de quão forte, ágil e hábil o ser humano pode ser. É a união pacífica, os exemplos de boa convivência e de competição sadia proporcionados pelos atletas que inspiram as criancinhas. É o atleta que defende o país. Nomes antes desconhecidos ditos como chances de medalhas, esperança. É a rua toda enfeitada com as cores da bandeira. Este estado de ser brasileiro, de decorar o hino nacional e de usar o verde e o amarelo como se fosse uma combinação da moda. 

Durante três longas semanas, criancinhas -- não só elas -- acreditaram que os brasileiros poderiam ser melhores que os argentinos, que aqui é a melhor nação do mundo, que o Brasil iria finalmente dar certo! Ficamos cegos quanto às qualidades dos outros e aos nossos próprios defeitos. Amar e defender o seu é um sentimento natural, é claro, por isso mesmo emburrecedor. Basta passear por qualquer cidade americana em quatro de julho para perceber. É fácil achar os americanos patéticos, é até injusto, porque comparados a eles, ninguém é tão patriota assim. Mas chegamos bem perto disso durante os Jogos Olímpicos. É mais ou menos a mesma coisa com a Copa do Mundo, só que nas Olimpíadas há uma variedade maior de interesses, afinal são diversos esportes para aprendermos as regras. 

E já começou a contagem regressiva para 2014... "Haja saco e coração, amigo!"

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