13 de outubro de 2008

As bolhas da crise financeira

Lev Chaim*

Não há lugar algum em que você se vê livre das conversas sobre a atual crise financeira. No Brasil, o assunto atacou primeiro os meios de comunicaçào, depois a população e, por último, o presidente, para quem, até bem pouco tempo, tudo parecia estar indo às mil maravilhas.

Quando retornei das minhas férias à Holanda, notei que o assunto crise havia tomado conta do país. Os jornais não falam outra coisa e a conversa se instalou também entre a população, em cada esquina que você vai. Até mesmo na hora de passear com o cachorro, você encontra o assunto sendo discutido.

De manhã, quando saí com o meu cãozinho, Pitú, de apenas 9 semanas e meia, para treiná-lo a fazer as necessidades lá fora, em vez de em cima dos jornais do chão da dispensa, deparei-me com um grupo de proprietários de cães que discutiam a crise financeira. Um senhor de cabelos brancos com um labrador marrom, uma jovem senhora com um pastor alemão, uma outra com um labrador preto e um jovem com um boxer. O meu Pitú é da raça corgi.
 
Naquela conversa rápida, aprendi muito sobre a crise. O dono do labrador marrom, com muita propriedade, disse que o setor financeiro esta cheio de bolhas – ou seja, verdadeiros rombos. Ele afirmou ainda, com ênfase, que esse era o termo usado pela maioria dos economistas. Ouvindo tudo aquilo, pensei comigo mesmo: poderia chamar essas bolhas de balões coloridos?

Enquanto ele falava, eu divagava. Eram balões coloridos, de vários tamanhos, cada um mais lindo que o outro. Nos tempos dos investimentos desenfreados, a procura de juros mais rendáveis para as aplicações financeiras, os investidores, olhando apenas o invólucro colorido, atraídos pelas diversas tonalidades e por sua ganância em ganhar, esqueceram-se de prestar atenção no conteúdo daqueles balões – ar e nada mais que ar. Eles foram ficando tão cheios e tão esticados que acabaram por estourar. Como eles estavam inseridos também dentro do sistema financeiro mundial, o estouro está assustando muita gente e colocando empresas mais sérias em perigo.

Enquanto pensava, o senhor dono do labrador marrom continuou o seu argumento: "O sistema financeiro funciona à base da confiança mútua. Se ela se evapora, de uma hora para a outra, ninguém empresta dinheiro a mais ninguém e o caos toma conta. Dinheiro tem que rolar".Concordando com a suas idéias, acrescentei: "Os investidores se deixaram levar pela ganância de querer mais e mais, esquecendo-se das salva-guardas especiais para esses tipos de transações. Era um jogo e muitos estão agora perdendo.

Todos disseram concordar comigo e a jovem senhora acrescentou que estava na hora das pessoas averiguarem com mais atenção onde os bancos colocam o seu dinheiro. "Os banqueiros não podem usar o dinheiro do cliente em especulações de alto risco e o proprietário da conta tem que ficar sabendo de tudo, nos mínimos detalhes e não só prestar atenção no que está rendendo.

Como Pitú estava cansado e eu também, despedi-me de todos, rumo à casa. O meu cãozinho, de apenas 9 semanas e meia de idade, não conseguia ainda andar muito. Os seus olhinhos até se fechavam de tanto cansaço. O jeito era carregá-lo para chegarmos mais depressa. No retorno, ia pensando: "Querer as coisas não é errado. Querer mais coisas, também não. Mas querer só para si já torna-se uma coisa estranha. Na ânsia de querer mais e mais e em menos tempo possível, muitos investidores esqueceram-se das precauções e colocaram o seu dinheiro num desses balões. E os bilionários? O que eles estão fazendo com o seu dinheiro? Tchau e até o próximo sábado.


* Lev Chaim é francano, reside na Holanda e escreve para o www.diariodafranca.com.br todos os sábados.

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