3 de dezembro de 2009

Meu medo

O futebol já tem muito espaço na imprensa. Mas me dê licença, não é sempre que a vida nos põe diante de tamanha ironia, o Inter podendo dar um título inédito ao Grêmio, o de Campeão Planetário do Jogo Limpo.

O mundo esportivo anda necessitado de lições, de exemplos; e agora um clube de Porto Alegre pode contribuir com uma boa dose disso tudo. Mostremos valor constância nesta ímpia e injusta guerra.

E digo, meu amigo, que não estou aqui para atiçar os fanáticos de qualquer lado, que fanatismo e cerveja morna me embrulham o estômago;
mas afirmo que, a partir do momento em que o Grêmio jogar à altura daquilo que a história lhe destinou, apenas um dos lados em questão poderá soltar a voz num canto unido: sirvam as nossas façanhas de modelo a toda a terra!

E também não estou aqui para dar uma de bonzinho, que bonzinho e bunda-mole não armam barraca em meio a tempestade.

Estou aqui com o plugue da opinião nas mãos, procurando a tomada que irá me conectar à verdade absoluta.

E a minha verdade é a seguinte: Não basta pra ser livre/ ser forte, aguerrido e bravo / POVO que não tem virtude, acaba por ser escravo.

Atenção, torcida dos outros times, preparem-se para a inveja.
Frustrem-se com esse perde e ganha corriqueiro do futebol.

É que há títulos, como aquele ao vencer uma final com apenas sete jogadores em campo, que só o tricolor dos pampas consegue.
Esse ninguém terá. Como nunca haverá outra Monalisa, outra Nona Sinfonia, outro teto da Capela Sistina.

Talvez o time não ganhe a partida - são amplamente conhecidas suas dificuldades fora do Olímpico este ano, mas que a virtude e a força vistam o sagrado manto azul e que tudo isso sirva de exemplo para as novas gerações.

É por isso que agradeço ao Internacional por essa chance, a chance que ele próprio teve ano passado contra o São Paulo - quando o Grêmio estava liderando o Brasileirão - e a jogou pelo esgoto da sua história, escalando um time misto de reservas e juvenis.

Diante da iminência desse titulo inesquecível que estamos prestes a conquistar, e da iminência de que o nosso maior adversário tenha que carregar o peso da lembrança que precisou do Grêmio para ganhar um campeonato, é que minha alma se enche de temor. Isso mesmo, medo.

E o meu medo é seguinte: e se os colorados resolverem escalar os reservas nos próximo domingo para prejudicar nossa conquista?

por José Pedro Goulart - De Porto Alegre (RS)
Quarta, 2 de dezembro de 2009, 08h08 Atualizada às 10h07
Extraido do site: www.terra.com.br

Um comentário:

  1. Texto do Veríssimo!
    “Não faltam motivos para descrer da Humanidade. Vamos combinar que fizemos coisas extraordinárias, mas nossa passagem pela Terra não está sendo, exatamente, um sucesso. Para cada catedral erguida bombardeamos três, para cada civilização vicejante liquidamos quatro, a cada gesto de grandeza correspondem cinco ou seis de baixeza, para cada Gandhi produzimos sete tiranos, para cada Patrícia Pilar dezessete energúmenos. Inventamos vacinas para salvar a vida de milhões ao mesmo tempo que matamos outros milhões pelo contágio e a fome. Criamos telefones portáteis que funcionam como gravadores, computadores — e às vezes até telefones — mas ainda temos problema com a coriza nasal. Nosso dia a dia é cheio de pequenas calhordices, dos outros e nossas. Rareiam as razões para confiar no vizinho ao nosso lado, o que dirá do político lá longe, cuja verdadeira natureza muitas vezes só vamos conhecer pela câmera escondida. Somos decididamente uma espécie inconfiável, além de venal, traiçoeira e mesquinha. E estamos envenenando o planeta, num suicídio lento do qual ninguém escapará. E tudo isso sem falar no racismo, no terrorismo e no Big Brother Brasil. Eu tinha desistido de esperar pela nossa regeneração. Ela não viria pela religião, que se transformou em apenas outro ramo de negócios. Nem viria pela revolução, mesmo que se pagasse para o povo ocupar as barricadas. Eu achava que a espécie não tinha jeito, não tinha volta, não tinha salvação. Meu desencanto era total. Só o abandonaria diante de alguma prova irrefutável de altruísmo e caráter que redimisse a Humanidade. Uma prova de tal tamanho e tal significado que anularia meu ceticismo terminal e restauraria minha esperança no futuro. E esta prova virá neste domingo, se o Grêmio derrotar o Flamengo no Maracanã. Se o Grêmio derrotar o Flamengo, o Internacional pode ser campeão. Mas o mais importante não é isso. Se o Grêmio derrotar o Flamengo mesmo sabendo as consequências e o possível beneficio para o arquiadversário, estará dando um exemplo inigualável de superioridade moral. A volta da minha fé na Humanidade não interessa, Grêmio. Pense no que dirá a História. Pense nas futuras gerações!”

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E você, o que vc pensa a respeito???

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