18 de abril de 2008

O país dos feriados

A palavra feriado, segundo o dicionário Houaiss, é descrito da seguinte forma: "dia de descanso, instituído pelo poder civil ou religioso, em que são suspensas as atividades públicas e particulares". É também expresso como dia de "festa", de "festejar", "estar de férias", atividades que o brasileiro -- sem querer ser (mas já sendo) clichê –- gosta e sabe aproveitar.

O Brasil conta com 14 feriados nacionais, entre eles Tiradentes (21 de abril), Dia do Trabalho (1º de maio), Independência do Brasil (7 de setembro), Finados (2 de novembro), Proclamação da República (15 de novembro) e Carnaval (ponto facultativo, mas que já é considerado feriado no país inteiro). Isso sem contar os feriados decretados pelos estados e municípios, que podem declarar até quatro feriados religiosos. A lei nº 9335, de 10 de dezembro de 1996, acrescentou ainda como feriado civil os dias de início e fim do ano do centenário de fundação de cada município, desde que fixado como lei municipal.

No ano passado, totalizando feriados e pontos facultativos, o país teve 28 dias de recesso –- quase um mês inteiro. A despeito dos defensores do "quanto mais melhor", os feriados deixam de contribuir para o crescimento do país. Em entrevista ao Diário do Nordeste, o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) do Ceará, Cid Alves, afirmou que em meses com feriado prolongado, o comércio acaba tendo um prejuízo de 12 a 12,5% nas vendas. O mesmo acontece para bares e restaurantes, que segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), têm nos fregueses locais a maioria da sua clientela fora das épocas de alta estação. O setor de turismo, por outro lado, comemora os feriados, quando trabalhadores e famílias viajam com maior freqüência.

O que surgiu com o propósito de comemorar datas importantes no passado, hoje tem o seu verdadeiro significado esvaziado. O mesmo serve para as datas religiosas, em sua grande maioria dedicadas à religião católica, com o Corpus Christi, a Sexta-feira da Paixão, o Dia de Finados e o dia de Nossa Senhora Aparecida, em 12 de outubro -– data instituída por ocasião da visita do Papa João Paulo II ao Brasil, em 1980. É de se admirar que um país laico, como o nosso, incorpore ao calendário oficial tantas datas católicas e pouquíssimas de outras religiões.

Entre elas está, por exemplo, o dia de São Jorge, comemorado no estado do Rio de Janeiro em 23 de abril. O projeto de lei para decretar oficialmente o dia do santo guerreiro foi do deputado estadual Jorge Babu, do PT, conhecido por ser um seguidor da umbanda. Além deste feriado -– comemorado pelos seguidores desta religião do candomblé --, há também o Dia do Evangélico em Brasília, comemorado em 30 de novembro, criado a partir de um projeto do então deputado distrital Carlos Xavier.

Seguindo o filão dos feriados brasileiros, por que não falar do dia em homenagem a Zumbi dos Palmares? O ícone da resistência negra à escravidão que, segundo reza a lenda, morreu assassinado, gera controvérsias, já que a sua existência não é sequer comprovada através de dados históricos. Ainda assim, o dia 20 de novembro já é comemorado em 15 municípios de São Paulo e no estado do Rio de Janeiro. Em 2002, a então governadora do Rio Benedita da Silva não pestanejou na hora de agraciar seus pares, sancionando a lei que instituía como feriado o dia da morte do suposto herói –- que é também Dia Nacional da Consciência Negra.

Uma pergunta acaba surgindo diante deste cenário: todos estes feriados seriam, afinal, pura demagogia por parte dos políticos? Tudo indica que sim, embora a indagação deva passar bem longe dos que propõem os feriados e daqueles que, por sua vez, agradecem pela homenagem feita a seus santos de devoção, heróis e religiões. Acima de tudo, o "obrigado" se deve aos benditos dias de descanso, afinal -- se fossemos levar em conta a predileção pelos feriados católicos -- somos todos filhos de Deus!

Se alguns têm demais, outros têm de menos. A China estuda a possibilidade de aumentar o número de feriados de dez para onze dias. Por ano, os chineses contam com três dias de descanso para o Dia do Trabalho, três para o Dia Nacional (da proclamação da República Popular da China), três para o Ano Novo Lunar Chinês e um para o Ano Novo. Durante estes "feriadões" de três dias é comum que os chineses prolonguem o descanso por até sete dias, as chamadas "semanas de ouro". Mas não pense, leitor, que a farra fica por isso mesmo... Os governantes locais, assim como acontece nos EUA, costumam criar mecanismos para que estes dias de descanso sejam compensados antes ou depois.

Independente da opinião individual de cada um de nós em relação a este tema, o fato é que se não somos o país com a maior quantidade de datas comemorativas, estamos quase lá. Por que não trocarmos, então, a frase "Brasil, o país da corrupção", por "Brasil, o país dos feriados?".

Fonte: Veja Online - Giovana Chichito - 18/04/2008

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