9 de dezembro de 2008

Os blogs e podcasts morreram

"Acabou aquela história de escrever palavrão nas paredes dos mictórios públicos. Blogueia-se, ao invés". O autor da analogia é Ivan Lessa, em sua coluna na BBC. Pergunto: como é que alguém pode continuar a bloguear depois disso? Pergunto também: como é que alguém pode continuar a podcastear? Os blogs morreram. Os podcasts morreram. É melhor fechar a braguilha e fugir envergonhado desse ambiente escatológico, degradante.

Ivan Lessa associa os blogueiros "àqueles tipos estranhos, infelizes e solitários, que escreviam para os jornais e revistas parabenizando pela reportagem ou indignados com a permanência na equipe do colunista Fulano de Tal". Eu já fui esse colunista Fulano de Tal. Com o tempo, os blogueiros - esses tipos estranhos -, acabaram se acostumando comigo. E passaram a reagir indignadamente à permanência na equipe de outros colunistas Fulanos de Tal.

O mais recente é Vinicius Torres Freire, colunista Fulano de Tal da Folha Online. Num artigo, ele acusou Lula de racismo, por ter declarado que, no Brasil, a "mistura de europeu, índio e negro permitiu que nascesse um povo mais criativo, mais esperto do que a média". A frase de Lula é racista. Vinicius Torres Freire está certo. Independentemente disso, ele foi coberto de insultos por parte dos blogueiros lulistas, que o atacaram por ser "paulista", "da elite branca", do "partido da imprensa golpista" e da "Opus Dei". Disseram também que ele tinha "ódio dos pobres". Até outro dia, essas ofensas eram dirigidas apenas a Reinaldo Azevedo e a mim. Agora elas se espalharam, para desespero de Vinicius Torres Freire, que certamente tem uma tremenda ojeriza a ser visto em nossa companhia.

Ivan Lessa matou o blogueiro amador. Falta matar o blogueiro profissional. Eu o vejo como um Gigi Baggini. Estou pensando especificamente em cinco blogueiros. Cinco, talvez seis. Gigi Baggini, interpretado por Ugo Tognazzi, é um personagem do filme Io la Conoscevo Bene. Ator de terceira linha, com a carreira acabada, ridicularizado por todos, Gigi Baggini se humilha sapateando numa festa, para tentar conseguir um papel num filme inexistente. Ele é como esses blogueiros profissionais, velhos jornalistas de terceira linha, com a carreira definitivamente acabada, que se humilham sapateando em cima de mesinhas para tentar obter uma ponta na imprensa de verdade. Seria melhor se escrevessem palavrão nas paredes dos mictórios públicos.
 

por Diogo Mainardi

VEJA.Com - PODCAST (Editora Abril S.A.)
3 de dezembro de 2008

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