11 de janeiro de 2008

Quem somos?

"Para saber quem somos, basta que se observe o que fizemos da nossa vida. Os fatos revelam tudo, as atitudes confirmam"

Martha Medeiros

Esse Orkut, bem utilizado, pode ser mesmo uma maravilha. Em poucos anos que utilizo, procuro amigos que a vida impôs distâncias. Geralmente encontro. Muitas são as gratas surpresas de reencontrar pessoas que fizeram muito sentido em minha vida e já se foram ou ficaram na mesma cidade (fui eu quem parti).

Reencontrar pessoas é como olhar fotos antigas num álbum. Ninguém tira fotos de momentos ruins, e as fases boas da vida vão passando na frente dos nossos olhos como num telão de plasma.

No Orkut, transformo-me num cara odiado em uma comunidade ao criticar uma cidade. Ao mesmo tempo passo a ser adorado ao lisongear alguém que mal conheço.

No Orkut é assim.

Quem é você? Do que gosta? Em que acredita? O que deseja? Dia e noite somos questionados, e as respostas costumam ser inteligentes, espirituosas e decentes. Tudo para causar a melhor impressão aos nossos inquisidores. Ora, quem sou eu. Sou do bem, sou honesto, sou perseverante, sou bem-humorado, sou aberto - não costumamos economizar atributos quando se trata da nossa própria descrição. Do que gostamos? De coisas belas. No que acreditamos? Em dias melhores. O que desejamos? A paz universal.

Enquanto isso, algo nos revira o estômago e a gente faz aquela cara de nojo. É muita santidade para um pobre-diabo, ninguém é tão imaculado assim!

A despeito do nosso inegável talento como divulgadores de nós mesmos e da nossa falta de modéstia ao descrever nosso perfil no Orkut, a verdade é que o que dizemos não tem tanta importância. Para saber quem somos, basta que se observe o que fizemos da nossa vida. Os fatos revelam tudo, as atitudes confirmam. O que você diz - com todo o respeito - é apenas o que você diz.

Entre a data do nosso nascimento e a desconhecida data da nossa morte, acreditamos ainda estar no meio do percurso, então seguimos nos anunciando como bons partidos, incrementamos nossas façanhas, abusamos da retórica como se ela fosse uma espécie de photoshop que pudesse sumir com nossos defeitos. Mas é na reta final que nosso passado nos calará e responderá por nós.

Quantos amigos você manteve. Em que consiste sua trajetória amorosa. Como educou seus filhos. Quanto houve de alegria no seu cotidiano. Qual o grau de intimidade e confiança que preservou com seus pais. Se ficou devendo dinheiro. Como lidou com tentativas de corrupção. Em que circunstâncias mentiu. Como tratou empregados, balconistas, porteiros, garçons. Que impressão causou nos outros - não naqueles que o conheceram por cinco dias, mas com quem conviveu por 20 anos ou mais. Quantas pessoas magoou na vida. Quantas vezes pediu perdão. Quem vai sentir sua falta. Pra valer, vamos lá.

Podemos maquiar algumas respostas ou podemos silenciar sobre o que não queremos que venha à tona. Inútil. A soma dos nossos dias assinará este inventário.

Fará um levantamento honesto. Cazuza já nos cutucava: suas idéias correspondem aos fatos? De novo: o que a gente diz é apenas o que a gente diz. Lá no finalzinho, a vida que construímos é que se revelará o mais eficiente detector de nossas mentiras.

à minha melhor amiga da adolescência, Tati, que
reencontrei dias desses no Orkut...

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